O Encontro
Postado: Magda Lima
16/03/2025
O Ano da Multiplicação
João 4 – O Encontro de Jesus com a mulher samaritana
Há encontros que marcam. Há encontros que curam. E há encontros que transformam toda uma história. João 4 nos apresenta um desses encontros. Um momento que, à primeira vista, parece apenas um diálogo entre um homem judeu e uma mulher samaritana. Mas que, na verdade, revela a essência do evangelho: a necessidade de Deus em se encontrar com o ser humano não por acaso, mas por propósito.
Jesus, ao passar por Samaria, não estava apenas caminhando geograficamente. Ele estava se movendo em direção ao cumprimento da vontade do Pai. E o texto é claro ao dizer que "era necessário passar por Samaria" (João 4:4). Esse “necessário” carrega um peso que vai muito além do deslocamento físico. É uma urgência espiritual. Uma missão que não podia ser adiada.
Um cenário construído por Jesus
Você já reparou como, nos Evangelhos, Jesus sempre prepara um cenário antes de liberar uma palavra? Ele nunca lança uma verdade fora de contexto. Ele cria uma ambiência, um momento, uma situação específica — e então Ele fala. Isso revela o cuidado de Deus em nos ensinar não apenas com palavras, mas com experiências.
Na criação, como o Verbo, Jesus preparou tudo antes de colocar o homem. A luz, as águas, a terra, os frutos... Só depois, o ser humano foi inserido. Assim também é em João 4: Jesus prepara o ambiente, o momento, o coração. E quando tudo está pronto, o Encontro acontece.
O alimento de Jesus
Jesus declara: "A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra" (João 4:34). Isso é absoluto. Não é relativo, condicional ou emocional. Jesus não diz que faz a vontade do Pai quando tem tempo, ou quando sente vontade. Ele vive da vontade do Pai. Isso o alimenta. Isso o sustenta.
Enquanto muitos buscam a Deus por necessidade, Jesus nos revela que a verdadeira vida está em fazer a vontade dEle. Não como uma tarefa árdua, mas como um banquete diário. Não como um fardo, mas como alimento.
A fome como oportunidade de encontro
Deus não cria a fome para nos punir, mas para nos atrair. É Ele quem prepara a comida antes mesmo da necessidade surgir. E quando a fome chega, é para que possamos nos aproximar da mesa. É nesse movimento que acontece o verdadeiro encontro.
A fome — seja emocional, espiritual ou física — não é o fim. É o caminho. O encontro com Jesus é o objetivo. A mulher samaritana chegou ao poço com um cântaro e uma sede qualquer. Mas saiu de lá com a alma saciada por uma água que nunca mais secaria.
O problema da carência
Jesus nos mostra que vivemos em uma cultura de carência. Estamos sempre procurando o que falta, nunca valorizando o que já temos. O diabo nos treinou para pensar que só seremos felizes quando tivermos mais, quando algo mudar, quando algo acontecer.
Foi assim desde o Éden. O diabo não negou a existência de Deus, apenas O empurrou para o fim da história. Disse a Eva: “no dia em que vocês fizerem isso, então vocês serão...” (Gênesis 3:5). Ele inverteu a ordem. Tirou Deus do princípio e colocou como uma expectativa futura.
Mas Deus não é uma expectativa. Ele é a presença real, constante, eterna. Ele é o princípio de todas as coisas. Quando colocamos Deus no fim, nos frustramos. Mas quando O colocamos no começo, somos guiados pela revelação e não pela carência.
Três níveis de conhecimento de Deus
Jesus, ao conversar com a mulher samaritana, a conduz por um processo de revelação. E é esse mesmo caminho que muitos de nós percorremos quando buscamos a Deus.
1. Instinto – Conhecimento pela necessidade
Este é o nível mais básico de relacionamento com Deus. É quando buscamos a Deus por necessidade. Precisamos de cura, de provisão, de alívio. E vamos até Ele. Isso não é errado — mas é o início da caminhada.
João 6:26 — Jesus diz: "Na verdade, na verdade vos digo que me buscais, não pelos sinais que vistes, mas porque comestes do pão e vos saciastes."
Assim também foram os dez leprosos (Lucas 17:17-18). Apenas um voltou para agradecer. Os outros estavam interessados apenas na satisfação de sua necessidade imediata.
Em Juízes 2:10-12, vemos Israel clamando a Deus em tempos difíceis, mas logo se esquecendo dEle quando tudo melhorava. Relacionamento baseado em necessidade é instável. É como uma criança que ama a mãe quando sente fome, mas esquece dela depois de se alimentar.
2. Intuição – Conhecimento pelo interesse
Neste nível, não buscamos a Deus apenas por necessidade, mas porque percebemos que Ele pode “compensar”. É o tipo de fé que analisa custo e benefício. Que pondera. Que se pergunta: vale a pena?
Jó 1:9-10 – Satanás questiona: "Porventura teme Jó a Deus debalde?"
A lógica aqui é: “Ele te serve porque está sendo abençoado.” Isso também se aplica àqueles que seguem Jesus desde que as condições sejam favoráveis.
Lucas 9:57-62 apresenta vários que queriam seguir Jesus, mas tinham “pendências” antes de se comprometerem totalmente. Mateus 19:16-22 mostra o jovem rico que desejava a vida eterna, mas não queria abrir mão de suas posses.
Esse segundo nível é perigoso. Porque a pessoa pode achar que está comprometida, mas ainda está presa ao que quer preservar. Não houve ainda rendição total.
3. Revelação – Conhecimento pela transformação
Aqui chegamos ao coração do evangelho. A mulher samaritana começou no instinto: ela tinha sede. Evoluiu para o interesse: “Senhor, vejo que és profeta.” Mas foi na revelação que sua vida mudou: “Eu sou o Messias”, disse Jesus. E ela largou o cântaro. Deixou para trás a razão pela qual havia ido até ali. Agora, ela carregava algo muito maior: uma missão, uma mensagem, uma transformação.
Mateus 16:16-17 – Pedro declara: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.” E Jesus responde: “Não foi carne nem sangue que te revelaram, mas meu Pai que está nos céus.”
Esse é o ponto da virada. Quando Deus deixa de ser uma ideia e se torna uma realidade. Quando Ele deixa de ser um recurso e se torna o centro. Quando não O buscamos mais por aquilo que Ele faz, mas por quem Ele é.
Filipenses 3:7-8 – Paulo declara que tudo o que antes era lucro, ele considerou perda, pela excelência do conhecimento de Cristo. Gálatas 2:20 – “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim.”
É isso. A verdadeira conversão não é uma troca. É uma descoberta.
O impacto do Encontro
Depois daquele encontro com Jesus, a mulher samaritana não foi mais a mesma. Ela se tornou uma mensageira. Correu até sua cidade e anunciou: “Vinde, vede um homem que me disse tudo quanto tenho feito. Porventura não é este o Cristo?”(João 4:29)
O texto diz que muitos samaritanos creram por causa da palavra dela. Mas, depois, creram ainda mais por causa da própria revelação de Jesus. O encontro gera transformação. E a transformação gera testemunho.
O convite de hoje
Esse texto não é apenas uma memória histórica. É um convite vivo.
Quantas vezes nos aproximamos de Deus apenas por instinto?
Quantas vezes ponderamos nossa entrega por causa de interesses?
E quantas vezes permitimos que a revelação mude tudo em nós?
Hoje, Jesus continua nos esperando no poço. Não importa a sede que nos trouxe até aqui. O que importa é o que Ele deseja revelar em nós.
Ele não está atrás de adoração por carência. Ele busca adoradores em espírito e em verdade.
Ele não deseja apenas satisfazer nossa fome. Ele deseja nos alimentar com a revelação da Sua vontade.
Ele não está nos oferecendo apenas um milagre. Ele está nos oferecendo um novo nascimento.
O verdadeiro encontro com Jesus não acontece quando tudo está bem, ou quando entendemos tudo. Mas quando, mesmo sem compreender completamente, nos rendemos ao que Ele é.
Que hoje você não apenas leia sobre Ele. Que hoje você O encontre.
Que hoje você largue o cântaro.
Que hoje você caminhe transformado.
Porque o verdadeiro encontro com Jesus... muda tudo.
Deus abençoe sua vida sua casa e sua família
Magda Lima
Abba Church Marlboro
(Texto baseado na Ministração do Pr. Benhour Lopes, Quarta da Palavra, 16 de Março de 2025)