Entre a Lei e a Graça: Pedras no Chão - Abba Church Marlboro

Entre a Lei e a Graça: Pedras no Chão

Postado: Magda Lima
12/02/2025
O Ano da Multiplicação
Entre a Lei e a Graça: Pedras no Chão

“Aquele que de entre vós está sem pecado seja o primeiro que atire pedra contra ela.” João 8:7

   Era cedo. O sol ainda nem aquecia completamente o chão de Jerusalém quando Jesus decidiu subir ao Monte das Oliveiras. Aquele lugar não era apenas geográfico. Era sagrado. Era onde o céu e a terra pareciam se tocar quando Ele se colocava de joelhos.

   O Monte das Oliveiras foi, por muitas vezes, o altar secreto de batalha, entrega e intimidade entre Jesus e o Pai. Ali, não havia multidão, holofotes ou glória visível. Apenas lágrimas, entrega, silêncio… e anjos servindo. Era o lugar onde Jesus quebrava seu vaso interior e derramava Seu perfume em adoração.

   Quantos de nós temos um lugar assim? Um cantinho onde nos despimos da pressa, das máscaras e nos rendemos sem performance? O Monte das Oliveiras nos ensina que as maiores vitórias públicas nascem em segredos privados.

   Logo ao amanhecer, Jesus desce e vai para o templo. Depois de uma noite inteira em oração, Ele se assenta para ensinar. O Mestre sabia que autoridade pública só é legítima quando nasce da comunhão secreta com o Pai.

   Enquanto ensinava, mal imaginava que dentro de um ano estaria naquele mesmo lugar… mas em outra realidade. Naquela manhã, Ele estava ali para ensinar. Mas dentro de um ano, voltaria para ser julgado, açoitado e crucificado.

   É por isso que a oração é urgente. Porque você nunca sabe onde vai estar daqui a um ano. O hoje é a semente do amanhã. Orar é preparar a alma para suportar o inesperado, para ser fortalecido na dor, para manter o propósito mesmo na traição.

    Interrompendo o ensino, os escribas e fariseus arrastam uma mulher até o centro do pátio. A multidão se abre, como uma ferida exposta. Eles a colocam no meio. E o meio, naquela época, era o lugar reservado para a vergonha pública e punição.

Ela foi pega em flagrante adultério.

Mas onde está o homem?

    A Lei dizia: "Se um homem adulterar com a mulher de outro, ambos deverão morrer." (Levítico 20:10; Deuteronômio 22:22). A condenação era coletiva. Mas só ela foi exposta. Só ela foi humilhada. Só ela foi trazida.

   A religiosidade sempre escolhe alvos frágeis. Sempre distorce a justiça para manter o controle. E é assim que tentam usar a Lei para testar Jesus.

“Na Lei, Moisés nos ordenou que tais mulheres fossem apedrejadas. Tu, pois, que dizes?” (João 8:5)

   Era uma armadilha. Se Jesus mandasse soltá-la, desrespeitaria a Lei. Se mandasse apedrejá-la, deixaria de lado a compaixão. Era um jogo sujo.

Jesus não responde. Não entra no jogo. Ele se abaixa… e escreve na terra com o dedo.

    Ah, que cena! O próprio Verbo, o Autor da Vida, com os dedos que moldaram o universo, agora escreve na poeira. Que contraste: os dedos que um dia esculpiram a Lei em pedra agora escrevem na areia.

   Talvez Jesus estivesse escrevendo: “Vocês sabem que não é isso que está na Lei.”

   Talvez Ele estivesse apenas nos lembrando de que a graça não se grava em pedra dura, mas em corações de carne. A Lei foi escrita em rocha. Mas a graça se escreve em lugares que o vento pode tocar e que a água pode lavar.

    No Antigo Testamento, o dedo de Deus escreveu o juízo na parede de pedra (Daniel 5). Mas ali, em um gesto profético, Jesus escreve na areia — revelando que a graça é movida pela compaixão, não pela condenação.

Eles insistem.

Querem sangue. Querem justiça.

    Então Jesus se levanta e responde com a sentença que ecoa até hoje nos corredores da culpa e da vergonha: “Aquele que de entre vós está sem pecado, seja o primeiro que atire pedra contra ela.” (João 8:7)

Silêncio.

    Um a um, os acusadores vão deixando o lugar. Começando pelos mais velhos. Talvez porque acumulavam mais pecados ao longo da vida. Talvez porque sabiam que também tinham telhados de vidro.

A consciência pesa mais do que as pedras.

Jesus se inclina pela segunda vez.

    Na primeira, Ele nos lembrou da Lei e sua limitação. Na segunda, Ele revela o poder da graça. A primeira inclinação representa o Sinai, onde a Lei foi dada. A segunda, aponta para o Calvário, onde a graça foi liberada.

    A inclinação de Jesus é um gesto profético. E quando Ele se levanta pela segunda vez, está profetizando a ressurreição— o ato que nos livra da condenação.

“Agora, pois, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus.” (Romanos 8:1)

Todos os acusadores se foram.

Ficaram apenas dois: Jesus e a mulher.

    Ela, ainda no meio, entre o medo e a esperança. Ele, o único justo, o único sem pecado, o único que poderia atirar a pedra — mas escolhe não fazer. “Mulher, onde estão os teus acusadores? Ninguém te condenou?” “Ninguém, Senhor.” “Nem eu também te condeno. Vai, e não peques mais.” (João 8:10-11)

Que libertação!

    Jesus não pergunta detalhes. Não interroga. Não julga. Não a expõe ainda mais. Ele não chama o marido, os pais, os vizinhos. Não publica. Não compartilha. Ele simplesmente perdoa.

A Lei cobria o pecado. Mas não o removia.

A graça, em Cristo, apaga, limpa, transforma.

Os homens foram embora com seus pecados escondidos. Mas a mulher… saiu dali livre, perdoada, sem culpa.

   Esse é o Evangelho! Ele não é sobre regras. É sobre redenção. Não é sobre pedras. É sobre pontes. Não é sobre expor o erro. É sobre revelar a graça.

    Em Colossenses 2, Paulo diz que: “Havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, tirou-a do meio de nós, cravando-a na cruz.” (Colossenses 2:14)

Jesus não só nos perdoou. Ele apagou o escrito da dívida.

Ele riscou o passado. Ele mudou a sentença. Ele deu àquela mulher — e a todos nós — um novo começo.

A mulher do texto não é só uma personagem bíblica. Ela é uma representação de todos nós.

    Todos nós já estivemos no centro de um círculo de julgamento, com pedras prontas para voar. Seja pelas nossas falhas, pecados, fraquezas ou escolhas erradas… já estivemos ali. No meio. Envergonhados. Expostos. Feridos.

Mas Jesus entra no cenário.

    Ele quebra o ciclo da acusação. Ele transforma o tribunal em altar. Ele nos olha nos olhos e diz: “Eu não te condeno. Vai. Recomeça. Anda em novidade de vida.”

Graça não é passar pano. É dar uma nova chance.

Graça não é ignorar o pecado. É nos mostrar que o sangue de Cristo tem o poder de nos lavar completamente.

Graça é Deus dizendo: “Eu te vejo. Eu sei o que você fez. Mas mesmo assim… Eu escolho te amar.”

    Que neste dia, ao lembrar dessa história, você solte suas pedras. Pare de julgar a si mesmo e aos outros. E se posicione entre a Lei e a Graça — mas escolhendo o lado da redenção, do amor, do arrependimento e do perdão.

Jesus ainda escreve na areia.

E ainda hoje… Ele continua dizendo: “Nem eu te condeno… Vai e não peques mais.”

Deus abençoe sua vida sua casa e sua família
Magda Lima
Abba Church Marlboro  

(Texto baseado na Ministração do Pr. Benhour Lopes, Quarta da Palavra, 12 de Fevereiro de 2025)