O Evangelho que Transforma

Lucas 5:36-38

   Há textos na Bíblia que são como janelas escancaradas para o céu e Lucas 5:36-38 é um desses. Nele, Jesus, com a sabedoria de um mestre e a sensibilidade de um Pai, nos ensina algo profundo: não dá para remendar a velha vida com pedaços do Evangelho. Ou nos deixamos ser completamente transformados, ou seguimos carregando rasgos camuflados que nunca serão, de fato, curados.

A proposta do Evangelho é transformação
   Desde Gênesis até Apocalipse, a Bíblia revela o plano de Deus: redimir, restaurar e transformar o ser humano. Não se trata de um pequeno ajuste de rota, mas de uma mudança total de direção.

“E não vos conformeis com este mundo, mas transformai-vos pela renovação do vosso entendimento…” (Romanos 12:2)

   Paulo nos lembra que não é o Evangelho que deve ser ajustado ao mundo — é o mundo que precisa se curvar ao poder transformador do Evangelho. E isso inclui a mim e a você. Nossos pensamentos, comportamentos, emoções, escolhas… tudo precisa ser renovado.

“Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim…” (Gálatas 2:20)

   Aqui está a essência da vida cristã: viver em Cristo, não mais em nós. Não se trata de pegar algumas verdades e tentar costurar em nossos hábitos antigos, mas de deixar os velhos trapos de lado e vestir algo completamente novo.

   O que Jesus quis dizer com “ninguém tira um pedaço…” Vamos voltar para o cenário que Jesus descreveu. “E disse-lhes também uma parábola: Ninguém tira um pedaço de veste nova e o põe em veste velha; pois rasgará a nova, e o remendo da nova não condiz com a velha.” (Lucas 5:36)

   Jesus não está apenas ilustrando uma escolha mal feita. Ele está falando sobre discernimento espiritual, sobre bom senso divino. Pense comigo: por que alguém rasgaria uma roupa nova para remendar uma velha? No contexto da época, isso era ainda mais impactante.

   Naqueles dias, roupas não eram como hoje. Eram caras, difíceis de obter, e não existia “loja de departamento” ou fast fashion. As pessoas possuíam pouquíssimas peças e usavam até o desgaste total. Não havia opção de “trocar o look”. Dormia-se com a mesma roupa que se viajava, lavava-se o que dava e o tempo fazia o restante do trabalho: rasgava, puía, desgastava.

   É por isso que, quando alguém ganhava uma roupa nova, o natural era se desfazer da velha. Era uma celebração, uma honra. Um sinal de renovação. 

   Agora imagine: você recebe um presente, uma roupa novinha, intacta, especial… e ao invés de vesti-la por inteiro, você pega uma tesoura e corta um pedaço para tentar remendar aquela roupa suja, velha, furada que já não cumpre mais seu papel.

Insano? Com certeza.

   E é exatamente isso que Jesus quis nos mostrar: espiritualmente, é isso que muitos fazem. Espiritualmente falando, muitos vivem de remendos

   Quantas vezes, em vez de permitirmos que o Evangelho nos transforme por completo, tentamos encaixar partes dele em nossa vida velha?

Pegamos um versículo sobre prosperidade, mas ignoramos os sobre santidade.
Aceitamos a graça que cura, mas rejeitamos a disciplina que corrige.
Queremos o milagre, mas não queremos o compromisso.
Clamamos pelo céu, mas continuamos apaixonados pelo mundo.

   Jesus sabia que, embora ninguém em sã consciência faria isso com roupas físicas, no mundo espiritual, muitos fariam. E fazem. Vivem de remendo. Tentam “melhorar” a vida velha com pedaços do novo, mas o que Deus quer é uma troca completa.

“Porque me vestiu com as vestes da salvação, cobriu-me com o manto de justiça…” (Isaías 61:10) Deus não quer costurar o Evangelho na sua vida antiga. Ele quer te despir do velho homem e te vestir com algo novo.

“Despojai-vos do velho homem... e vos revistais do novo homem, que segundo Deus é criado em verdadeira justiça e santidade.” (Efésios 4:22-24) Isso não é reforma. É reconstrução. Não é pintura. É nova estrutura. Não é remendo. É redenção.

A ilusão da autossuficiência
   “Como dizes: Rico sou, e estou enriquecido, e de nada tenho falta; e não sabes que és um desgraçado, e miserável, e pobre, e cego, e nu.” (Apocalipse 3:17) Esse texto fala com firmeza e compaixão à igreja de Laodiceia. Uma comunidade que achava que estava tudo bem, quando, na verdade, estava vivendo de aparências. Vivendo de remendos. Achando que não precisava do novo de Deus.

   E quantos de nós, em algum momento, já não estivemos assim? Nos enganando com “boas intenções”, com uma aparência de espiritualidade, mas sem transformação real?

Deus quer te vestir de vestes novas. “E Josué, vestido de vestes sujas, estava diante do anjo... Eis que tenho feito com que passe de ti a tua iniquidade, e te vestirei de vestes novas.” (Zacarias 3:3-4. Esse texto é um socorro para a alma cansada. 

   Josué, sumo sacerdote, aparece diante do anjo com vestes sujas. E qual foi a ordem de Deus? Lavar? Remendar? Esconder? Não. A ordem foi clara: tira essa roupa, eu vou te dar outra.
   Deus não quer “melhorar” o que está quebrado. Ele quer trocar. Ele quer fazer novo. Ele quer que você viva de forma renovada emocionalmente, espiritualmente, mentalmente. O velho precisa ser deixado para trás.

O problema é que muitos querem só um pedaço

E aqui chegamos no dilema moderno do Evangelho.
Queremos o Evangelho da bênção, mas não o da renúncia.
Queremos o Deus que cura, mas não o que corrige.
Queremos o céu, mas não queremos a cruz.
Queremos as promessas, mas não queremos o processo.

   Só que o Evangelho não é dividido em fatias. Ele é um pacote completo. Não há como cortar uma parte que nos interessa e jogar fora o restante. Ou aceitamos tudo, ou perdemos tudo.

“Ninguém põe vinho novo em odres velhos.” (Lucas 5:37) É o mesmo princípio. O novo não combina com o velho. O Evangelho não se adapta à nossa antiga forma de viver. Ele exige que a gente troque o odre — que a gente mude o recipiente, que a gente renuncie o velho sistema.

A verdade que precisamos ouvir
   Nos dias atuais, há uma onda perigosa crescendo: a tentativa de adaptar a Palavra de Deus às conveniências humanas. Gente moldando doutrinas, criando interpretações sob medida, forjando uma espiritualidade confortável.
   Mas o Evangelho continua sendo cruz. Continuação do Gólgota. Morte do eu. Renascimento em Cristo. Transformação de dentro pra fora.
   Paulo alertou com firmeza: "Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema.” (Gálatas 1:8)

Ou seja: o Evangelho verdadeiro não muda. Ele é eterno. Sagrado. Não negociável.

   E o que eu faço agora? Se você chegou até aqui e sente que, por muito tempo, viveu de “remendos”, aqui está a boa notícia: ainda dá tempo de trocar a roupa. Deus não te chama para o remendo. Ele te chama para a renovação.

Escolha não viver de pedaços. Aceite o todo. Receba o pacote completo do céu.
Não tente salvar o que Deus está te pedindo para deixar.
Não tente melhorar aquilo que o céu quer trocar.
Não tente adaptar o Evangelho à sua história… se renda e deixe Ele escrever uma nova história com você.

Deus tem vestes novas, vida nova, propósito novo. Tudo novo!

Conclusão
   O Evangelho não é uma agulha. Ele é um manto. Ele não remenda, Ele cobre. Não tapa buracos, Ele renova completamente.
   Então, minha oração é que você não tente mais consertar sua vida com partes do Evangelho. Que você receba tudo. Que você se vista da graça, do amor, da justiça e da verdade que só vêm de um relacionamento real e profundo com Jesus.
“E vos revistais do novo homem...” (Efésios 4:24)

Não viva de remendo. Viva do novo. Viva do céu. Viva do que é eterno.

Deus abençoe sua vida sua casa e sua família
Magda Lima
Abba Church Marlboro  

(Texto baseado na Ministração do Pr. Rodrigo Lima, Quarta da Palavra, 26 de Março de 2025)